O PACTO DO PROFETISMO E DA FIDELIDADE COM OS MAIS POBRES

Escrito em 12/08/2020
imprensa

“ – E tu, viveste? Amaste?
E eu, sem dizer nada, abrirei o coração
Cheio de nomes” – Dom Pedro Casaldáliga – CMF

No dia 09 de agosto de 2020, nós, Ir. Geovani Pereira, OMI, Ir. Jeferson Silva, OMI e Ir. Rivaldo Carvalho, OMI, representando a Congregação dos Missionários Oblatos de Maria Imaculada, tivemos a oportunidade de participar da Missa da Esperança e de prestar nossa última despedida a Dom Pedro Casaldáliga, Bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia-MT, na cidade de Batatais, a 363 quilômetros da cidade de São Paulo.

Ao chegar na capela dos Claretianos, onde Dom Pedro estava sendo velado, vivenciamos momentos de muita mística, diante do corpo de um santo profeta do nosso tempo. E entre um testemunho e outro, entoava-se um refrão que lembrava a luta de Casaldáliga, junto ao vale dos esquecidos [São Félix do Araguaia]: Quero entoar um canto novo de alegria, ao raiar aquele dia de chegada em nosso chão. Com meu povo celebrar a alvorada. Minha gente libertada , lutar não foi em vão” – Zé Vicente.

Não há dúvidas de que o sentimento que brotou de tão singelo momento foi o da mais pura gratidão. Olhar aquele rosto – agora de aspecto frágil e envolto em um ar sereno – não impediu que a memória trouxesse à tona aquela voz que antes denunciara tamanhas injustiças. A voz que, como as águas do rio Araguaia, espalhou-se para além dos limites da terra, fazendo-se ouvir.

As mãos que se encontravam unidas e frias, antes foram capazes de tocar o outro com amor e sujar-se no sangue daqueles que, com ele, sonharam e lutaram por um mundo mais justo. Encontrávamos-nos diante das mesmas mãos que nos presentearam com tão belas poesias que, antes de tudo, falaram da vida.

E ali, sobre a Palavra de Deus, os pés que se descalçaram para pisar a terra vermelha do Araguaia e, mais que isso, pisaram o solo sagrado da vida de tantas pessoas, que encontraram em Casaldáliga, a força necessária para lutar por uma vida mais digna e justa.

Com choro de alegria e emoção, tivemos a graça de fazer a transladação do seu corpo, da capela dos Claretianos até o ginásio do Centro Universitário, para a Missa das Exéquias, que foi presidida por Dom Moacir, Arcebispo de Ribeirão Preto.

Tivemos o privilégio de afirmar e renovar nosso pacto de fidelidade com o grande legado que o Bispo de chapéu de palha e anel de tucum deixa para a Igreja do Brasil e do mundo. A semente de Pedro vai germinar e ser multiplicada nas nossas lutas, pelos direitos humanos e pela dignidade de nossos irmãos e irmãs mais fracos e excluídos.

Para os Oblatos de Maria Imaculada, o testemunho de vida e missão de Dom Pedro é alimento para as nossas missões e um chamado a continuar fortalecendo nossa opção preferencial pelos mais pobres e abandonados. Lembremos que Santo Eugênio de Mazenod, depois de ordenado sacerdote pregou em provençal, língua do povo simples,  para que este tivesse uma experiência com o Salvador Misericordioso, Jesus de Nazaré.

Que Maria, Mãe dos pobres, nos ajude a sermos fiéis e coerentes em nossa missão de levar adiante as lutas de Dom Casaldáliga, por uma Igreja sem males e um Reino de justiça, paz e fraternidade.

Ir. Geovani Pereira, OMI
Ir. Jefferson Silva, OMI
Ir. Rivaldo Carvalho, OMI