Todos os anos celebramos, na nossa vida, os tempos de Advento e de Natal. Que dizer destes tempos hoje, num mundo complexo e marcado por fracassos? Quais as novidades atuais? Sobretudo, de que precisa o cristão para a sua vida e para a sua missão profética, hoje?
Com efeito, a renovação — e não os costumes — dos tempos de Advento e de Natal parece-me importante. Primeiro, o Advento é um momento muito especial na nossa espiritualidade: ele precede a celebração fraterna da Encarnação e do nascimento de Jesus. Como cristãos e cristãs, precisamos manter acesa a chama de Jesus — luz e Rei da paz —, que abriu um caminho novo de vida. Olhando para o nosso mundo, vemos tanta injustiça, desigualdade, pobreza e violência entre nações, países, povos e muito mais.
Guerras que não terminam, enquanto outros morrem inocentes nas mãos de predadores. Por causa do abuso de poder malicioso, criaram-se estruturas injustas e uma situação de fome, miséria e morte prematura. Jesus, luz e vida, aconselha-nos a ter um coração capaz de amar com compaixão e misericórdia.
Jesus nasceu para nos mostrar como viver de modo mais humano, criando laços fraternos de compaixão e misericórdia: “A Palavra fez-Se ser em Jesus de Nazaré, que veio armar a Sua tenda entre nós” (Jo 1,14). Jesus veio iluminar a nossa vida de cada dia: “Eu sou a luz do mundo. Quem Me segue não andará nas trevas, mas possuirá a luz da vida. Quem guarda a Minha palavra no seu coração encontrará a verdade que vos libertará. Sereis, assim, Meus discípulos” (Jo 8,12.31-32).
O Advento prepara-nos para penetrar no mistério natalino de Jesus de Nazaré. Jesus assumiu uma presença fraterna com os pobres, no meio do povo sofredor. Colocou o amor como fonte de todo o nosso viver e do nosso conviver: “Amai-vos uns aos outros.”
O segundo tempo, igualmente importante, é o Natal. O Natal é a celebração do encontro e da manifestação da luz. Preparar o caminho do Senhor na nossa vida é, pois, condição para celebrar melhor o Natal. Nele, Jesus nasceu criança, sem teto, sem casa, numa manjedoura, em contexto humilde e pobre (cf. Lc 2,1-20). Quem celebra o Natal indiferente às causas e aos efeitos de um sistema socioeconómico gerador de pobreza — como experimentaram Maria e José — ainda não contemplou Aquele que Se fez pobre para nos enriquecer (cf. 2 Cor 8,9). Em meio a um mundo com tantas incertezas e desafios, o Natal reafirma que a esperança e a bondade são invencíveis. É a luz de Cristo que se acende nas nossas trevas pessoais e sociais. O Natal não é apenas uma data: é o início de uma nova forma de viver. A espiritualidade do Natal, hoje, provoca-nos a reconhecer Jesus nas pessoas ao nosso redor, a praticar a caridade e a solidariedade e a espalhar a alegria e a paz que o Seu nascimento nos trouxe.
Para preparar a celebração do Natal nos nossos corações, precisamos também da coragem de João Batista. Enviado por Deus para preparar a vinda de Jesus como luz do mundo, João, filho de sacerdote, deveria passar a vida no Templo; porém percebeu o Templo contaminado pela corrupção social e religiosa, que transformava a verdade em mentira e a justiça em opressão e sofrimento. Como profeta, retirou-se para o deserto, junto ao rio Jordão, onde acorriam multidões sedentas de vida, verdade e justiça.
Também nós precisamos ser profetas que denunciem as muitas injustiças do nosso mundo. Agir assim é preparar o caminho do Senhor na nossa vida e estar prontos para uma melhor celebração do Natal.
Deus, que todos os anos nos alegra com a expectativa da nossa salvação, conceda-nos a graça de O vermos sem temor quando vier como Juiz o Seu Filho Unigénito, Nosso Senhor Jesus Cristo. Que agora nos alegremos em recebê-Lo como Redentor.
Um feliz e excelente Advento e Natal!
MBANZI VINCENT VANSTRAELLEN, OMI